quinta-feira, 1 de novembro de 2012

O Caso Sandro Hiroshi e a volta do Fluminense a Série A

O Caso Sandro Hiroshi foi um escândalo que ocorreu no futebol do Brasil. No ano de 1999, o jogador Sandro Hiroshi Parreão, que então jogava pelo São Paulo, envolveu-se em problemas com a justiça desportiva por ter tido a certidão de nascimento supostamente alterada por seu pai quando criança.
Sandro Hiroshi começou sua carreira no Tocantinópolis Esporte Clube e em 1999 se transferiu para o Rio Branco Esporte Clube. No mesmo ano, logo após o término do Campeonato Paulista, o atacante transferiu-se do Rio Branco para o São Paulo Futebol Clube e o Tocantinópolis exigiu uma parte do dinheiro envolvido na negociação. Os advogados do clube tocantinense alegavam que a transferência do atleta ao São Paulo seria irregular, pois o jogador teria sido inscrito pelo Rio Branco sem autorização do Tocantinópolis. O Rio Branco, por sua vez, alegava que o atacante se transferira ainda como juvenil e que, nesse caso, não haveria necessidade de autorização por parte do clube tocantinense.
Para evitar que, numa eventual nova negociação, outros times se envolvessem nessa questão, a CBF considerou o passe do atleta "bloqueado", ou seja, o atacante Sandro Hiroshi estava apenas proibido de se transferir para outro clube enquanto a pendenga jurídica entre o Rio Branco e o Tocantinópolis não fosse resolvida. É importante salientar que esse "bloqueio" não significava, em hipótese alguma, a ausência de condições de jogo, tanto é que, antes do início do Campeonato Brasileiro, os departamentos técnico e jurídico da CBF deram seu OK às inscrições de todos os atletas pelo São Paulo, inclusive o recém-contratado Sandro Hiroshi.
Logo na terceira rodada do Brasileirão de 1999 (no dia 4 de agosto), o São Paulo goleou o Botafogo por 6x1 e, poucos dias depois, o alvinegro entrou com um pedido de anulação dessa partida alegando que, em razão do "bloqueio" de seu passe, o atacante Sandro Hiroshi (que esteve em campo naquela goleada) teria atuado irregularmente. Esse pedido só foi julgado pelo Comissão Disciplinar do TJD em 19 de outubro (ocasião em que o clube carioca já corria sério risco de rebaixamento à Série B), quando simplesmente forjou-se uma interpretação do "bloqueio" segundo a qual o jogador realmente teria atuado de forma irregular. Com isso, a Comissão Disciplinar, valendo-se de uma versão obsoleta do CBDF (Código Brasileiro Disciplinar do Futebol), tirou do São Paulo os três pontos daquela goleada e os entregou ao Botafogo.
O tricolor paulista ainda recorreu ao TJD, alegando que havia dezenas de outros jogadores com o passe "bloqueado" e consequentemente em situação tão "irregular" quanto a de Sandro Hiroshi. Em julgamento realizado no dia 3 de novembro, porém, o TJD (que atuou "ilegalmente", pois o tribunal estava formado exclusivamente por membros indicados pela OAB-RJ quando, de acordo com a lei, os representantes deveriam ser apontados pela OAB nacional) apenas ratificou a decisão da primeira instância.
Posteriormente, o Internacional (que também brigava desesperadamente contra o rebaixamento) também ganhou da Comissão Disciplinar o ponto do seu jogo contra o São Paulo, em virtude da "escalação irregular" de Sandro Hiroshi. Diferentemente do Botafogo o Internacional ganhou apenas um ponto pois havia empatado o jogo contra o São Paulo. Com esses pontos, o Botafogo terminou o campeonato com média de aproveitamento superior à do Gama e acabou salvo do rebaixamento à Série B. O Internacional se salvaria do rebaixamento à Série B mesmo se se não tivesse ganho o ponto da partida contra o São Paulo.
Ao contrário do que muita gente pensa e muitos guias e almanaques publicam, o motivo de o São Paulo ter perdido os pontos dos seus jogos contra Botafogo e Internacional não foi a falsificação da data de nascimento nos documentos do atacante Sandro Hiroshi. Na realidade, após a Comissão Disciplinar dar ao Botafogo os pontos do jogo contra o São Paulo, o jornal Folha de São Paulo passou a investigar a real situação do passe e da inscrição do atacante tricolor. Durante essa investigação (que aconteceu depois do julgamento na Comissão Disciplinar), a Folha descobriu que o atleta havia adulterado sua idade e que jogava desde 1994 com documentação falsa. Essa revelação foi publicada na Folha de 19 de outubro de 1999 e, logo em seguida, a CBF decretou a suspensão preventiva do jogador até que a apuração dos fatos denunciados fosse efetuada e um julgamento fosse realizado. Esse julgamento aconteceu em 29 de novembro de 1999 e o atacante do São Paulo foi condenado a 180 dias longe dos gramados. Como essa suspensão aconteceu ao mesmo tempo em que tramitavam os julgamentos em torno do "bloqueio" do passe e os advogados do Botafogo chegaram até a mencionar a denúncia da Folha no segundo julgamento do jogo contra o São Paulo (realizado no dia 3 de novembro), a grande maioria da imprensa esportiva imediatamente misturou os fatos e confundiu causas, efeitos e conseqüências diferentes.
Assim, o certo, mesmo, é que a única razão para o São Paulo ter perdido os pontos de seus jogos contra Internacional e Botafogo foi o famigerado "bloqueio" do passe de Sandro Hiroshi.
Por sua vez, o Gama, que não estaria entre os rebaixados se os resultados conquistados pelo São Paulo dentro de campo fossem mantidos, naturalmente não aceitou a situação e foi à justiça comum conseguindo uma liminar que lhe dava o direito de integrar a Primeira Divisão do Campeonato Brasileiro de 2000, quaisquer que fossem os participantes ou o critério utilizado para selecioná-los.
Pressionada por essa liminar e por alguns clubes (liderados pelo Vasco) que ameaçavam não entrar em campo em jogos contra o Gama, a CBF delegou a incumbência de organizar o Campeonato Brasileiro de 2000 ao Clube dos 13 que imediatamente se aproveitou da oportunidade para elaborar um campeonato de ocasião e trazer Fluminense, Juventude, América Mineiro e Bahia de volta para a Primeira Divisão, criando assim a Copa João Havelange.

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